Recentemente, foi alegado que a CIA tinha criado um programa de vacinação falso na cidade onde acreditavam que Osama bin Laden estaria escondido, numa tentativa de obter provas que confirmassem a presença de membros de sua família no local. O material genético seria comparado a uma amostra da irmã de Bin Laden, que morreu em um hospital dos EUA em 2010.
Shakil Afridi, um médico paquistanês supostamente recrutado pela CIA para chefiar a operação clandestina em março, já foi preso pela inteligência paquistanesa. Embora os EUA já estejam em negociações com funcionários do Paquistão para garantir a libertação de Afridi, as revelações marcam uma dificuldade ainda maior nas relações entre os dois países.
Porém, o dano ultrapassa os círculos diplomáticos. Disfarçando o seu exercício de recolha de informações como um programa de vacinação contra hepatite B, a CIA está ameaçada de perder a confiança que suas equipas de socorro tem todo o mundo, minando os esforços genuínos para erradicar doenças perigosas.
A agência deu um prato cheio para os teóricos da conspiração que acreditam que a ajuda médica é uma nova forma de repressão colonial. De acordo com especialistas, o programa de vacina fictício interpreta o papel perfeito para as teorias da conspiração mais paranoicas, tanto que poderia estar num filme: inútil, venenoso, um disfarce para o “governo” praticar o mal.
O mesmo tipo de paranoia levou à rejeição generalizada da campanha de vacinação contra a pólio na Nigéria em 2003, depois que começaram a circular rumores de que a vacina foi propositalmente contaminada com venenos que reduziriam a fertilidade e causariam cancro.
Profissionais de saúde internacionais operam, normalmente, em ambientes instáveis, onde a falta de confiança entre os trabalhadores de saúde e os pacientes pode levar à perda de vidas. Em 2010, no Afeganistão, combatentes talibãs sequestraram e executaram 10 trabalhadores de ajuda médica, alegando que era uma equipa de espiões. Esses boatos prejudicam, e muito, todos os esforços voltados ao auxílio médico.
Recentemente, representantes do Comité Internacional da Cruz Vermelha no Paquistão alertaram sobre as consequências do programa falso da CIA. Segundo eles, tudo o que compromete a imparcialidade dos médicos prejudica suas actividades, especialmente em lugares onde o acesso à saúde é muito precário e onde as condições de segurança para os profissionais já são arriscadas. A organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) também criticou as acções dos EUA e emitiu uma declaração condenando o perigoso abuso da confiança médica.
Agora, o principal risco é que as comunidades que mais necessitam de acesso aos serviços de saúde passem a questionar os motivos dos médicos e da ajuda humanitária e deixem de aceitar o auxílio.
Um pouco antes do programa da CIA se tornar notícia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta de que um raro tipo de poliomielite tinha sido identificado numa criança do Paquistão. As taxas de imunização na região são baixas e há temores de que a doença possa se espalhar. A OMS afirmou que a chave para o sucesso da imunização completa é a plena participação da comunidade, para aumentar o acesso à população.
Com as notícias sobre o programa de vacinação falso já provocando uma reação na área, a participação plena da comunidade parece improvável. A CIA é mesmo poderosa, mas à custa de quantas vidas?
Fonte: hypescience